sábado, 28 de junho de 2014

Acordei meio nostálgica hoje. Lembrei da infância e de quando, por exemplo, meus pais resolveram me presentar com uma "mesada". O acordo se resumia em uma cláusula: minha irmã e eu receberíamos um valor em reais relativo a idade. Onze reais, precisamente. Onze anos. Essa fora a primeira mesada que chegava em minhas mãos com um desafio guardado: como gastar tal quantia? Não tardar alguns dias, estávamos em um loja pequena do bairro à procura de algo que chamasse a nossa atenção. Euforicamente, o poder de compra estava sendo inaugurado.

Naqueles meses, aprendi várias lições que talvez tivessem escapado caso caísse em minha carteira, magicamente, um valor 100 vezes maior que aquele. Comecei, portanto, a eleger prioridades. Onze anos e o meu grande sonho de consumo era ter um jogo da memória, ou de cartas ou uma bola. Não que não pudesse tê-los antes, mas adquirir algo como consequência de um dinheiro "próprio" era, com certeza, incentivador.

Posteriormente, alguns detalhes foram acrescentados e, enfim, a meritocracia entrava em vigor em nossa casa. Lavar o prato que sujou, deixar a cama arrumada no fim do dia ou não bagunçar o sofá, nos rendia algum dinheiro a mais. E, aquele brinquedo ou aquela carteira de desenho infantil que custava um pouco mais do que tínhamos, poderiam, finalmente, serem adquiridos.

Um cofre também surgiu em nosso planejamento. Três meses guardando trocados e logo acreditávamos em "ser rica". Anos se passaram e a mesada aumentava progressivamente. Duas vezes o valor numérico da idade. Quatro vezes. Seis vezes...

Hoje, o "planejamento financeiro" faz parte do meu dia a dia tanto quanto escovar os dentes e, sem titubear, agradeço aos meus primeiros e maiores educadores: meus pais, por terem preparado duas crianças para o mundo.

Ah, boas lembranças!

Amanda Laryssa

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Livre, sendo.

Eu gosto do gosto da solidão.

Confesso, me sinto livre dessa forma. Sumir por um período, sumir por dias. Enfim, ser só. Sem contato com o caos exterior. Tentando comunicar-me com o interior, o meu Eu. "Eu não sei, na verdade, quem eu sou" - proferiu um compositor. E, de suas palavras, me sinto dona pois, sobre mim, nenhuma verdade é dita.  Todas as linhas em meu rosto, todos as cicatrizes de minhas memórias, todo esse silêncio revelam minha pequenez diante do "ser". Sou o entrelinhas de minhas ações, sou a sutileza de minhas palavras. Não sou o todo. Sempre me falta o "ser". Para quê "sou"? Se ainda o sou!

Sobre o gramado recém molhado pela chuva que brandou sem receios, sobre meus fardos, configuro meu olhar para o céu, paradoxalmente, estrelado. Inundado pelo silêncio. Silêncio que, a mim, desejei por meses. Essa liberdade que me permiti sentir. Livre da senhora loucura disfarçada entre sussurros e delírios diante da multidão. Multidão reduzida ao nada. Ali estou só.

Ali eu sou. Sem compromissos: ali me fiz.

Posso sentir o brilho espelhado, pelas estrelas, em meu olhar. Posso sentir o arder de minhas emoções. Posso gritar o socorro que sempre pedi. O desespero de minhas decisões. De braços abertos, sinto. Sinto. Rodopiando, posso retirar de mim o que não sou. Arrancar a pele que me protege. Que não me deixa "ser". Que transforma meu "ser" em "querer".

Me sinto viva. Viva de mim. Cheia de "mins". O plural que sou. Longe de olhares desconfiados.  Dançando sem música. Livre. Sem rótulos, sem julgamentos pré-estabelecidos.

Ali sou.

Ali me fiz.



Amanda Laryssa


terça-feira, 12 de março de 2013

Sem final. Sem fim.


Acordo. Assustada. Sem fôlego.Tentando puxar o ar como se minha vida dependesse disso. Não há mais tempo. Esse lugar é estranho. Não o reconheço. Não me reconheço. Luto para saber o que isso significa. Não há respostas.Algo está me sufocando. É forte, mas não posso o ver. Debatendo em cima daquele chão frio, luto. Apenas luto. Não sei, na realidade, se há motivos para isso. Para a luta. Desgastada e de alma suja, fujo. Corro. Para longe.Não importa o destino. Apenas sair dali. Passos cansados. Há muito o que andar e não há forças.Me canso com senilidade. Isso está me cansando. Fugir. Sou uma covarde? Correr assim? Digo, não há mais o que fazer, certo? Fugir deveria ser uma solução. Não é?Covarde, eu? Não havia mais como suportar tudo aquilo. Apenas me diga o que fazer e eu farei. Essa fuga me cansa. Estou sozinha. Não há nada nem ninguém a quem pedir ajuda. Afinal de contas, estamos sozinhos, não? Pactos como "na alegria e na tristeza" não deviam ser feitos. São fajutos. Sujos. No final de tudo, somos um "eu" lutando pela própria sanidade, pela própria vida. Esta fuga deletéria. Me corroí. Tem sido rotineira.Parar para respirar é o mesmo que esperar pelo pior. 

Ajuda. Preciso. (...)

Amanda Laryssa







quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

A garota que não amava


A tarde caía e lá estava. Doce Sofia. Sorria atoa. Se embalava como se fosse dona da felicidade. E afirmava que era. Tinha amigos, os melhores, segundo a própria. Desajeitada, pegada o violão e tentava pôr em prática algumas aulinhas teóricas mas logo desistia. Queria aproveitar o momento. Gritar para o mundo que ela estava lá e que adorava a vida e seus encantos. Relembrava as cenas que logo cedo presenciara: a roda de amigos falando asneiras e a deliciando com sorrisos exagerados. Tudo parecia lindo. Foi deitar em euforia. Agradeceu por ter dias como àquele. Rezou e, mesmo relutando, pegou no sono.

Para o dia seguinte já tinha compromisso: olhar os amigos. Era como rotina. Olhar aqueles mesmos rostos tornou-se o hobbie preferido da garota. Praguejava se não a deixassem fazer. E saía, leve e cantarolando -em tom baixo. Queria, também, ser um pouco egoísta. Guardar aqueles dias apenas consigo (e seus amigos, claro). Aquele dia tinha sido escolhido para visitar algumas barracas de um centro educacional ali perto - adorava ter amigos que gostassem de ler, de música boa e de tudo que a deixava feliz.

E assim foram.... Tudo passou como em um estalo. Estalo nada simples, mas, sim, cheio de purpurina e confetes. Ela mesma dizia: "a festa é feita pelos convidados, não pelo dj ou pelo lugar". Oh garota! Cheia de planos. Entristecia quando alguém dizia que aquilo era algo momentâneo. Mas também não ligava: nada lhe afetaria. Era forte e determinada. 

Os dias se passaram. Meses... O ano estava se preparando para encerrar: inicio das festas de fim de ano. Era algo simplesmente magnífico. "Esse ano ficará guardado para sempre, em cada fotografia ou palavra dita."- repetia para quem quisesse ouvir. A garota estava radiante. Tinha tudo, ou achava que tinha. É meio complicado entender essa garota. Era saltitante. Mas naquela noite havia algo diferente em seu modo de saltar. Era uma noite nublada e, meio sonolenta, resolveu descansar: deitar e se embalar na rede que decorava seu jardim. Olhava para o céu. Negro tão quanto misterioso. E, então, ficou ali... quieta. Sem saber o que pensar. Sem demora, caiu no sono.

Acordou assustada, já eram 2 da manhã e ela estava ali, tremendo de frio. Se cobriu e comportou-se. Não queria sair. Havia encontrado um lugar confortável e, que, lhe dava acesso ao céu: agora com algumas poucas estrelas. Aproveitou que o sono havia lhe deixado um pouco e postou-se a pensar. Desejou ter alguém ao lado para aproveitar aquele momento genuíno. Listou seus amigos. Sim, não pensava em mais ninguém. Mas acabou desistindo da escolha.

Lembrou-se de um casal de namorados que havia conhecido. Sorriu ao lembrar da felicidade de ambos e de como tinha comparado à própria com a daqueles que, aos beijos, compartilhavam da ideia. Mas não, tendo todo o tempo do mundo, começou a detalhar aquela conversa. Eles falavam de algo chamado "amor". Sofia já havia escutado aquela palavra mas sempre dava de ombros. Não naquele dia... Aquele tempo mórbido havia aproveitado para deixar um tom de nostalgia naquela menina. 

Recordou também das histórias dos jovens. No dia em que havia olhado os dois, escutou todas, mas estava mais concentrada no encontro que teria com seus amigos, no mesmo dia. Agora, ali, vulnerável a qualquer sentimento, Sofia deixou se entristecer. Aquele desejo de ter alguém, e, apenas um, ao lado: era tentador. Pode sentir a pitada de inveja de saber que duas pessoas podiam se completar tanto quanto o casal. Desejou ter aquilo. Mas, desengonçada como era, não entendia o que estava sentindo. 

Pobre garota. Não conhecia o amor. E, sem solução, chorou em sussurros na tentativa de eliminar aquela sensação estranha. Não queria aquilo. Aquela menina não sabia amar. Sentia medo. Enrolou-se e, implorou para dormir. Não conseguiu. Aquela madrugada foi longa. Posso jurar que, depois daquele dia, a garota tomou algum impulso. Mas não posso dizer tal coisa. Não encontrei mais aquela doce Sofia. Não sei por onde andas. Oh garota! Era tão feliz antes de descobrir o amor. 


Amanda Laryssa


segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Quem será você?

R.C.M.,


             Criatura singular nos mais diversos sentidos. Vejo em ti características impostas apenas aos gênios poetas. Muito me lembras a adolescência diferenciada de certos escritores. Solidão e melancolia que, não sendo de todo o mal, lhe inspira e te faz grande. Sua confusão pessoal mais parece novela e, se divulgada, renderia, sem dúvidas, uma plateia digna de prêmio. De drama à comédia. Não negando que o lado dramático lhe custaria mais que dois terços de história.

Dom. Abelha. Amigos. Saúde. Paz. Camarão. Persuasão.
Raposa. Vice. Altruísmo. Pizza. Dejá vu. Número 10. 
Palavras. Patch. Confusão.  Silêncio. 
Mensagens e silêncio.

             Palavras aleatórias que te resumem de forma débil. Mas é assim, aleatoriamente que te faz diferente. Difícil de compreender, é aleatoriamente que faço presença, ora a distância ora tão próxima que levanta suspeitas. Suspeitas bobas, aposto.
         Quem será você? Vario minha opinião de anjo a demônio. Em um mês criastes tanto desconforto quanto sorriso. Não sei se lhe indico uma coroa ou uma terapia. No entanto, desejo que fiques. Não se deixe levar pelos ventos que afugentam ouro de mim. Senta aqui e seja doce. Em choros ou sorrisos escandalosos: Fique. Não me prometas a eternidade, mas o presente. Presente sendo presente. 
             Fique.
             (...)
             

Amanda Laryssa



             

sexta-feira, 16 de novembro de 2012



Tenho em mim
vários personagens 
Um temendo o outro 
em uma harmônica
bagunça pessoal.



domingo, 7 de outubro de 2012

Nada

             Não sei o que acontece comigo. Essa divergência frequente degasta meu consciente. Tudo e Nada. Hoje andei preferindo o nada. Ninguém. Praticando o desapego. Quando não se consegue achar serventia para si, esta deve ser a solução. Afastando-se para deixar a paz reinar. Talvez a guerra esteja aqui, comigo. 

             Fadigada. De mim. Queria, sem pretéritos imperfeitos. 
             
      

Amanda Laryssa

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Querida quimera

               Às vezes tenho a sensação de não me pertencer. Enquanto falo, não percebo a minha assinatura nas palavras que saem. Eu calo, mas ainda continuo a dizer o que o outro quer que eu diga. Acomodei-me a ser assim e só agora percebi. Não sei se devo levar isto para o lado positivo ou negativo.  Sem hipérboles piegas, mas ando perdida em mim. Essa inquietude por não saber quem sou e permanecer na minha interrogação pessoal. Confusão reservada a mim e a esta simplória página que me salva sempre quando possível. Aliás, escrever se tornou salvação. Escrevo porque após parece assunto encerrado. "Parece"? Transpareço minhas incertezas de forma descarada. Incertezas que tornam minhas únicas certezas algo precioso. Basicamente duas: Deus existe e meu humilde amor por alguns. Salvo ambas, volto ao questionamento. 

               Cada um sabe o que melhor lhe parece curioso. A origem do mundo, a existência de entidades, definir o real... e eu fico presa sem saber, ao menos, me explicar. Parece uma reclamação, porém não passa de uma descrição. Uma regurgitação do meu lado amargo, sem cores. Que alguns preferem ignorar, no entanto é o que mais me presenteia. Sem dúvidas, é o que mais me surpreende. Sem fazer alusão ao que já foi imposto como regra, o preto e branco pode consistir em doçura tanto quanto em frieza. Em amizade ou em solidão. Apenas, ao contrário do colorido, remete à calmaria. E ao que sou.

               Ensaiei alguns finais para este texto, mas quem sou para por fim em algo que não passou de um rascunho mal feito. Um trecho apenas. Algumas linhas que pularam dos meus pensamentos ao acaso. Queria eu, colocar tudo, parágrafo após parágrafo do que se encena em meus queridos devaneios. Mas a vida me chama e terei que parar como em um flash. "É vida que segue."

Amanda Laryssa
               

domingo, 16 de setembro de 2012

Devaneios em tráfego


Noite. Trânsito. 
Entre as buzinas e as falácias, uma cabeça baixa. 
Alguns acordes se fazem trilha sonora.
 Pensamentos soltos, confusos. 
O FUTURO. Eis o duvidoso, causador de insônias e apertos.
Cansativo, nos coloca em pontes finas e inseguras. 
Sem destino certo, escolhe ao acaso seu fim.

Incertezas. Dúvidas.
Desgaste diário, se fará, quem sabe, em renovação.
Pensamentos longes e sonhadores.
Recortes do que virá adiante.
Será eu o que tenho hoje?
Aflição, não saber ao menos pitadas de passos à frente.
Ansiedade, desfoca sem querer o começo.

Ao romper da música...
O PRESENTE. Cada martírio por vez.
Sem trilha, o agora não tem seus encantos.
Mas precisa ser vivido. Agora.
Sem rebuços.

Amanda Laryssa

domingo, 27 de maio de 2012

Alguns rascunhos preenchem agora a lixeira e nada consegue me expressar corretamente.
Meloso demais, depressivo demais, romântico demais, tedioso demais.
Mas me arrisco em dizer: "Não me basto".
Amanda Laryssa